Sunday, December 16, 2007

Quando entrei na faculdade eu sinceramente acreditava que a população brasileira não aguentaria tanta corrupção e abuso dos governantes que eles mesmo escolheram e por isso, não demoraria muito até que as nós saíssemos às ruas e desencadeassemos uma guerra civil. Ingenuidade minha. Ou pretensão mesmo, como de qualquer estudante que pensa em mudar o mundo.



Eu era uma sonhadora e estudei muito sobre os anos de chumbo da ditadura brasileira.



Doze anos depois, eu continuo indignada com denúncias de dinheiro desviado, de gente morrendo em fila de hospital, de crianças com doze anos que não sabe ler e políticos que aprovam o aumento de seu próprio salário. É tão insano que parece mentira.



O cinema tem contado algumas histórias da história brasileira dos idos da ditadura.

Mesmo com todas as licenças poéticas e dramatúrgicas, essas histórias são um bocado importantes para um país do qual já disseram que "perdeu a memória". Seja do ponto de vista do menino Mauro, em "O ano em que meus pais saíram de férias", de Zuzu Angel ou de Frei Betto em "Batismo de sangue", não há como não sentir um calafrio de pensar que eu sou produto dessa história. E que tenho que fazer por merecer a luta e a tortura de tantas pessoas que eram sonhadoras como eu sou. É o meu trabalho de formiga na educação.



Sempre que possível olho pra trás pra me inspirar e continuar existindo dignamente nessa História. A batalha de Zuzu Angel pra "embalar seu anjo" começou em 1971, quando Stuart desapareceu. Foi só em 2007 que a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos publicou o livro-relatório "Direito à memória e à verdade" (disponível em http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/.arquivos/livrodireitomemoriaeverdadeid.pdf ). 36 anos. E lá há linhas sobre outras tantas pessoas que provavelmente nunca chegarão às salas escuras dos cinemas. Outras tantas histórias de sonhadores. Sinta-se parte.



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