Tuesday, May 01, 2007

O Dia do Vazio

Tem dias que mesmo azuis, mesmo cheio de algodões, mesmo de brisa fresca e de sorrisos, falta. Acorda-se como se tudo estivesse inteiro, mas falta. Um incômodo sutil, como quando se está sentado muito tempo na mesma posição e não adianta remexer no sofá, que não há jeito de confortar.

Há tempos houve discussão sobre o vazio. De que não era certeiro o vazio ser tão ruim. Se algo está vazio é porque outrora esteve cheio. É? É. Vazio hoje por esgotar, desperdiçar, descuidar, exceder, quebrar.

Silêncio é ar vazio de sons. Às vezes é um vazio precioso pra dar som pros pensamentos mais tímidos. É impressionante como então eles se tornam espaçosos, cheios de quereres. E como houvesse silêncio daqui de dentro, ouve sons lá de fora. Cousas das quais já falei, o abafado das estrelas e os insetinhos noturnos.

Saudade é vazio de gentes e lugares e tempos. Faz vazios tão grandes dentro da gente, que me impressiono! De nem saber que eu mesma era tão grande pra comportar tanto espaço cheio que deixasse tanto espaço vazio!

Solidão é vazio de si mesmo. Não há jeito. Pode-se procurar gentes e lugares e tempos. E qualquer tentativa de dissertar sobre, vai parecer clichê. Como diria o Seu Erudito, "e tenho dito e pronto".

Pois sim. Lala e eu decretamos, 1º de maio, o Dia do Vazio! Nos abençoa, Chico, que agora tem de haver lugar pra o que vem vindo logo ali.

"É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar"
C. Buarque

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